Título: M. Dias Branco avança no Sudeste e dribla alta do trigo
Autor: Filgueiras, Maria Luíza
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/08/2008, Gazetainveste, p. B3

São Paulo, 29 de Agosto de 2008 - Na prévia da oferta pública de ações, em outubro de 2006, a M. Dias Branco quase não pôde se gabar de mais de meio século de história e um portfólio das marcas mais fortes de massas e biscoitos do Nordeste. Era uma desconhecida para muitos operadores do mercado financeiro, concentrados no Sudeste. "Tínhamos que nos apresentar como a controladora da Adria, adquirida em 2003", conta Álvaro Luiz de Paula, diretor-adjunto de relações com investidores da empresa. Estreou no Novo Mercado, nível mais alto de governança corporativa da Bovespa, atraindo os estrangeiros, responsáveis por 71% da entrada de recursos. Em menos de dois anos, a companhia cearense firmou o nome de origem e elevou em 50% sua receita líquida (comparativo do primeiro semestre) mesmo com o avanço no custo da commodity que mais impacta seu negócio, o trigo. "A elevação do preço da matéria-prima pressiona a margem bruta no curto prazo, então nosso desafio é fazer reajustes aceitáveis pelo mercado sem perdas significativas", diz. Com o pico dos preços do trigo em 2006 e 2007, a indústria toda chegou a fazer até quatro reajustes anuais. Na companhia, no comparativo do primeiro semestre deste ano com o ano anterior, o reajuste médio no segmento de biscoito foi de 9% e, em massas, 20,5%. A alta de preço do trigo se justificou nos últimos dois anos pela especulação sobre a demanda da matéria-prima, por parte de países em crescimento acelerado de consumo como China e Índia, e sobre a demanda de empresas brasileiras, que eram as maiores compradores de trigo da Argentina e teriam que recorrer a novos vendedores. Aliado a isso, alterações climáticas, como geadas nos Estados Unidos, contribuíram para pressão de custos. O preço por tonelada, que em outubro de 2006 era vendido a US$ 150, saltou para US$ 430 em março de 2008. Mas , segundo De Paula, o preço da commodity está em fase de estabilização, graças ao aumento de 39% da produção brasileira, que atingiu 5,3 milhões de toneladas na safra de 2008/2009. "Também há evidências de aumento de área plantada em outros países e o mercado argentino se reabrindo para o Brasil, com 9 milhões de toneladas para exportação." O preço de venda da tonelada hoje é de US$ 320 com projeção de US$ 290 no mercado futuro. Apesar da oscilação de preços e da dependência da commodity, a companhia não faz nenhum tipo de transação de hedge no mercado futuro - "por uma questão de custo, expertise e capacidade de armazenagem. Conseguimos travar o trigo por três meses com nossa estocagem, mas nada impede que utilizemos de instrumentos derivativos no futuro", afirma. Considerando o segundo trimestre dos últimos dois anos, o resultado de abril a junho de 2008 foi o segundo pior em margem bruta, mas com o maior controle de despesas operacionais, registrou a melhor margem líquida dos últimos seis trimestres. Um dos caminhos para aumentar o controle de custos é a verticalização - da farinha utilizada na produção, 90% é de fabricação própria, o correspondente a 50% do volume total produzido (cerca de 250 mil toneladas no primeiro semestre), e a outra metade é vendida no varejo e indústria. Hoje cerca de 50% da receita da companhia é proveniente do segmento de biscoitos, 23% de farinha e farelos, 22% massas e o restante de margarina e gordura. "No principal negócio, adquirimos em abril a Vitarella, marca forte nos estados de Pernambuco, Paraíba e Alagoas, aumentamos a penetração da Zabet, de Lençóis Paulista, no interior de São Paulo e na região Centro-Oeste através de cross-selling e agregamos a marca Isabela, uma das principais do Rio Grande do Sul e Santa Catarina", explica. Apesar da diversificação geográfica e de portfólio, ainda hoje o Nordeste responde por 70% da venda de biscoitos. Com a ascensão econômica das famílias da região, a M. Dias Branco tem conseguido elevar a base de consumidores e diversificar o mix de quem já era cliente. "O consumidor, que melhorou de renda, deixou de consumir somente biscoito cream cracker para comprar também os recheados." No mercado acionário, os papéis da empresa têm oscilado conforme o sobe e desce da bolsa em geral, influenciada pelo cenário externo - mas a estratégia da companhia tem sido bem recebida pelos investidores. Da data de compra da Indústria Bomgosto em abril (controladora da Vittarela) ao final do semestre, por exemplo, a ação registrou valorização de 36,1%, contra queda de 7,1% do Ibovespa no mesmo período. Apesar do estatuto prescrever o repasse de 25% do lucro líquido na forma de dividendos para os acionistas, a companhia adotou como prática a distribuição de pelo menos 40% do lucro em 2006 e 2007. Apesar de não ter data definida para o follow-on, a M. Dias Branco tem até o final de 2009 para elevar o percentual de ações em circulação dos atuais 16% para 25%. (Gazeta Mercantil/Finanças